O "PICADAM" DO MORRO DO HYBYTICATU
...a busca do caminho por terra às minas de ouro do Cuiabá
Os Bandeirantes
eram paulistas que se embrenharam pelo sertão do Brasil, durante longo
tempo, em busca de ouro, prata, pedras preciosas e índios, a quem
procuravam para o trabalho escravo. A eles o Brasil deve a expansão do
seu território, antes pequeno, por acordo entre Portugal e Espanha. Os
Bandeirantes, em sua ânsia de conquistas, não respeitaram esses acordos
e, avançando além de nossas fronteiras, ocuparam para Portugal,
territórios que pertenceriam à Espanha.
Um desses bandeirantes, Bartolomeu Paes de Abreu, fez sua história ligando-a à conquista do Sertão de São Paulo, Minas, Mato Grosso e Goiás. Ativo e arrojado, em 1704, foi Procurador do Conselho da Câmara de Vereadores de São Paulo e, no ano seguinte foi, também seu Juiz Ordinário.
Empreendedor, possuía fazendas de criação em Minas Gerais, no caminho por onde passavam as Bandeiras paulistas que buscavam as regiões auríferas, localizadas entre o Rio Grande e o Rio das Mortes. Nessa região ocorreria a sangrenta Guerra dos Emboabas, entre mineradores paulistas e portugueses. Bartolomeu Paes de Abreu, nessa ocasião, teve sua fazenda destruída, perdendo 400 cabeças de gado. Possuía, também, outras terras nos campos de Curitiba, com grande rebanho.
Irriquieto, Bartolomeu Paes
de Abreu resolveu, no início do século XVIII (1721), abrir um caminho
por terra, para possibilitar aos comboios de homens e animais chegarem
até o Mato Grosso, que começava a atrair mineradores para a lavras de
ouro do Rio Coxipó, que haviam sido descobertas por Pascoal
Moreira Cabral e Gabriel Antunes Maciel (1718).
Pediu ao governador da Capitania de São Paulo e Minas, que àquela época eram uma só, autorização para isso, solicitando algumas vantagens a serem cobradas de todos que usassem tal caminho. Impaciente para esperar a resposta e, como estivesse ausente o Governador da Capitania, em viagem às Minas Geris, decidiu partir para o Sertão. Abriu um caminho, em 1721, que chamou de "picadão", a partir do Morro do Hybyticatu, termo da Vila de Sorocaba. Começou-o, como ele mesmo deixou escrito, da "derradeira povoaçam da última villa...", subindo e varando a Cuesta a partir de uma das inúmeras trilhas que apontavam para o Oeste. Algum tempo depois chegou ao Rio Paraná, onde instalou três roças de milho, feijão, legumes e deixou 250 bois em uma delas.
O rumo que tomou o seu caminho, num trajeto presumido pelas descrições que deixou, foi: dos altos da Cuesta, a partir, provavelmente do atual município de Pardinho, aos campos do Lençois e dali à cabeceira do Rio Batalha e, então, pelo divisor (partes altas que dividem as bacias hidrográficas) do Feio (atual Aguapeí) e Peixe, por onde prosseguiu até os Campos da Laranja Doce e, depois, pelas 18 léguas de densas matas do Vale do Rio Santo Anastácio até o Rio Paraná.
Mas Bartolomeu não foi feliz. No tempo em que ficara no sertão, um outro governador chegou ao Brasil e passou a dirigir a Capitania de São Paulo e Minas. Julgando-se desrespeitado por Bartolomeu Paes de Abreu, que saíra para o sertão sem o seu conhecimento, não lhe deu nenhuma vantagem pretendida. Tudo perdido, num emaranhado de conveniências oficiais e intrigas palacianas.
Mas o seu "picadão" ficou aqui, como o primeiro caminho aberto a partir dos altos da Cuesta, no rumo do sertão. Foi sobre ele que, algum tempo depois, Luiz Pedroso de Barros começou a abrir, com autorização oficial, o caminho de São Paulo até o Rio Coxipó, no Mato Grosso. Deste caminho, aberto a mando do governador Rodrigo Cesar de Menezes, sabe-se que foi sair defronte à desembocadura do Rio Pardo (o que desce do Mato Grosso e deságua no Paraná), tendo usado a maior parte do traçado deixado feito por Bartolomeu Paes de Abreu.
Seu trânsito esteve interrompido em várias ocasiões: ora por violentas investidas dos Caiapós e Guaicurus, na região dos rios que davam no Paraná; ora pelas entradas feitas pelos espanhóis , que vinham pelo caminho até o território paulista colocar padrões (marcos de pedra) que designavam ser aquelas terras da Corôa Espanhola. Era a luta pelo território.