Praça Itália, Hospital, monumentos e Festas
Italianos cheios de "estórias"
Presentes
no dia a dia da cidade, os italianos nunca deixaram de
cultivar
seus costumes. Para todos, preferidas, mesmo, eram as
festas nacionais pátrias.
Entre elas
despontava, como data anual, o XX de Setembro, comemorada com muitos
festejos,
organizados em conjunto pela Società e Agência Régia,
para
lembrar a unificação; aquele 20 de setembro de 1870, quando Garibaldi
comandou o exército através da "bresccia" aberta
nas muralhas
do Vaticano e incorporou o território romano ao reino.
Desde a
vinda dos imigrantes italianos para as fazendas, essa comemoração,
contida nos corações, sentimento latente, aguardava momentos melhores
para se efetivar. Bastou que os primeiros começassem a se fixar nas
sedes de município e essas festas começaram.
Pode
ser que existissem contestações dentro da colônia pelo perfil
monarquista que foi dado à data.
Mas a unificação das várias regiões, sob um
único governo nacional, acabou por criar um sentimento de nacionalidade
que não existia até então.
Botucatu
não deixou de ter as suas comemorações, carregadas de
sentimento e amor pela pátria distante.
Suntuosas e cheias de pompa. É o
que nos revela o professor Pedretti Netto em memorável artigo de 1947,
reproduzido pela revista Peabirú (1998): "Encenavam-se os ataques à
cidadela papal, em Roma. Representando soldados, italianos e filhos de
italianos marchavam, a cavalo, pela Rua Riachuelo, até
a Praça da Liberdade, onde ficava a Igreja
S.Benedito (atual Cel.Moura) e ali, a golpes de sabre, rompiam as
muralhas da cidade eterna, para penetrá-la
através de uma fenda: era a "Breccia di Porta Pia". Para júbilo dos
espectadores, oriundi vindos das fazendas, no dia
da Patria - 20 de setembro."
O
professor Pedretti nos relata a festa de 1898, com seu Vitorio Emanuell
na figura do Varoli Alessio
(ainda presidente da Società Pró Pátria) e o Giuseppi Garibaldi na
figura do Cianciarulo Gianuário (que seria conselheiro na futura
sociedade, unificada). Essas comemorações
do 20 de setembro invadiram os dias do século XX,
para cessarem quase nos anos 40.
Ao lado
das atividades cotidianas da colônia italiana, do tipo
Escola, Fanfarra, Bandas de Música,
Orquestras, Clubes e muita briga política, organizaram, também, a
Sociedade XX de Setembro, que chamou a si a responsabilidade de
organizar a festa, anos a fio.
Foi o
que fez e invadiu as décadas iniciais do século XX, cumprindo
o seu papel. A festa só vai deixar
de ser organizada quando, perto da segunda guerra, a colônia de
Botucatu passa a ter problemas. Uma única vez pode ser localizada, como
falha, nos idos do século dezenove. Em 1899 a Società (presidida,
então, por Estefano Ferrari) e o
Comitato para a festa (presidido por Alessio Varoli) estampam pelo O
Botucatuense um cancelamento: "Italiani, dizia, O Comitato para a festa
do 29. aniversario da Breccia di Porta Pia, em conjunto
com a Diretoria da Sociedade Italiana de
Beneficenza Croce di
Savoia...delibera suspender a festa ...em vista das agitações
que reinam em vários italianos
ofendidos em seu amor próprio..." e
convidava ogni buon italiani a ...demonstrar o seu amor pela pátria
distante, embandeirando e iluminando sua própria habitação.
Iluminar, è bom lembrar, seria
colocar algo como um lampião nas janelas, de vez que a cidade continuava mergulhada na escuridão
pré-elétrica. Até mesmo a morte do herdeiro do trono italiano, Humberto
I, assassinado, foi, acentuadamente, marcada. O fato ocorreu em julho
de 1900.
Em
agosto toda a colônia, da cidade e das fazendas estava presente à
missa na Matriz. Agentes
consulares, autoridades, todos, terminada
a missa, desceram pelas ruas
de Botucatu, para culminar num desagravo solene,
embalado por uma banda tocando marchas fúnebres, enquanto nos
domicílios que pudessem, defraldavam-se os pavilhões
brasileiro e italiano.
Na
frente, um coche fúnebre levava o busto do morto, em gesso,
elaborado horas antes nas oficinas
do artista Paris Bresciane, da Marmoraria
Progresso, do qual existe um acervo imenso de obras da mais pura arte,
exposto nos mausoléus do Portal da Cruzes: o que
restou até agora a salvo da voracidade das
marmorarias...
A Praça
Italiana - pode não parecer que tenha existido, mas a
praça da Fonte Luminosa, no Bosque, já foi
uma propriedade da colonia italiana, que fez daquele local uma praça
pátria. Foi assim:
O
antigo Teatro Santa Cruz foi construído pelos administradores
da Miseric¢rdia Botucatuense, diz o
dr.Sebastião de Almeida Pinto, para fazer rendas para a iniciativa
misericordiosa da época. Mas
entrou em crise e repassou, por 65 contos de réis o Teatro e a praça
toda, à colônia italiana local. O Teatro passou a se
chamar Espéria e já tinha a sua parte
central de madeira, onde ficavam a dependências da platéia. Na praça
fronteiriça, tão logo ensejou-se a oportunidade, os italianos erigiram
um busto em homenagem a Del Preti, um
aviador italiano falecido em acidente, quando, em manobras sobre
a baia da Guanabara, seu avião precipitou-se,
encerrando prematuramente sua
estada no país. A praça, chamada de João
Pessoa, viu , durante um tempo, o esforço dos
italianos locais, tentarem consagrar o nome Del Preti, para a mesma.
Isso acabou durante a Segunda Guerra. O Busto foi retirado e está, hoje, no Centro Brasil-Italia.
Palco
de festividades da colônia e da cidade, centro político
preferido para a realização de comícios de
todos os tipos, era, também a praça do Paço Municipal, até quando o
velho casarão consumiu-se em
chamas, numa manhã dos anos 50. Foi demolido e sua área negociada com o município, que construiu no lugar
a Fonte Luminosa. Acabou praça, teatro e busto de italiano.
O
monumento a Anita Garibaldi - Sinal de orgulho, da paixão dos
brasileiros pela Itália foi a vida
da gaucha Anita Garibaldi, falecida em terras italianas, na companhia
de seu Giuseppe, o unificador.
A
colônia italiana local fez erigir um monumento em sua homenagem
e deu a ela uma Praça. Misterioso,
até agora, o monumento levou o mesmo destino que o outro, muito
significativo. Sumiu.
O
Hospital da Colonia - A Colonia italiana, alimentava o sonho de ter
um Hospital. Próspera, no
início do século, ela imaginava assistir, com tratamento especializado
a seus membros. Era assim em muitas capitais e cidades importantes do
Brasil. E assim, também, era o comportamento das outras colônias de
Botucatu, como a Portuguesa, que
chegou a iniciar sua obra. Mas, os italianos, só o teriam em 1928.
Diz o
historiador local Armando Delmanto que, já tendo amplo sucesso
em vários ramos de negócio, o
oriundi Pietro Delmanto, comerciante, industrial e fazendeiro, investe
boa parte de seu capital na construção da Casa de Saúde Sul Paulista,
um magnífico edifício, construído por Dinucci e Pardini, em plena Avenida Santana. Para fazer
frente aos investimentos, inclusive tecnológicos, pois a
casa era uma novidade em ampla
região - aparentemente, Pietro Delmanto associa-se a um outro italiano,
dr.Michelle Losso, médico que se transferira para Botucatu na década de
20 e constitui a sociedade por cotas de participação. Pietro e
Michelle, o primeiro, industrial no ramo de couros e, o segundo, médico formado em Bologna, vão
constituir o primeiro Hospital Italiano de uma vasta zona do interior
paulista. Planejada, construída e inaugurada pelos italianos
de Botucatu, a Casa de Saúde Sul
Paulista, ainda trouxe para cá o dr. Ludovico Tarsia, professor de
Clínica Cirúrgica da Real Universidade de Nápoles e entregou-lhe a
Direção Clínica do estabelecimento, durante algum tempo.
Ao seu lado trabalharam os médicos Dr.
Michelle Losso, operador e parteiro
e o dr. Aleixo Delmanto (filho de Pietro), radiologista. Na década de
50, o hospital, enfrentando crise, já mudado ao longo do tempo de
proprietário, é repassado para o Estado. Com base nele, o Estado de S. Paulo dá início ao que seria o Hospital Regional
da Sorocabana.
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