Pequenas propriedades
Os distritos rurais italianos
de Botucatu
Quando
os imigrantes, entre eles os italianos, chegaram, por volta
dos anos 80
do século passado (XIX), foram trabalhar em plantações de café,
iniciadas
anos antes, nas grandes fazendas de propriedade de membros da colônia
portuguesa de Botucatu. Eram os maiores projetos agrícolas da cidade,
exigindo
maiores investimentos e abrangendo
as
maiores extensões de terra, quase todas localizadas
nas
proximidades
da cuesta. Terras boas, segundo dizem as melhores do
município
e haviam sido transferidas, aos poucos, para seus proprietários,
desde os anos 70 daquele século.
Os
italianos que chegavam, contratados, uns moços demais, na maioria
casados, com filhos, vinham jogando
sua sorte, para tocar com a família um conjunto de pés de café,
calculado aproximadamente em 4 mil. Deveriam manter limpos e livres das
ervas os espaços entre os pés, lugar que ficou conhecido como "as
ruas". Findo o primeiro contrato,
parte deles perambulava pelas fazendas, procurando melhores condições que acrescentassem qualidade de
vida aos familiares, como por exemplo, melhores casas ou melhores
rendimentos, ou contratos que possibilitassem ter sua própria
criação de animais ou sua roça.
E
trabalhavam duro, levando a família inteira para a lavoura. A que
existia e os novos, quando
adquiriam idade para o trabalho. Ninguém iria dar conta do eito a não
ser com os braços que a família pudesse arregimentar. Por isso,
invariavelmente, as esposas também iam para o trabalho.
No
Brasil, a média para acumular algum dinheiro, suficiente para
pensar em possuir sua própria
terra, girava em torno de 4 a 5 anos. Dinheiro de 4 ou 5 safras, acrescido do que a família pudesse
fazer render com a venda dos animais criados ou então dos doces feitos,
quando o contrato permitia.
Não
foram todos os que conseguiram isso, nem todos os que seguiram
esse caminho, mas o que o fizeram
reapareceram com sua terrinha mais ao oeste do
município. Ali, onde a terra não era tão boa como nas proximidades da
Serra, por ser muito arenosa, e por isso mesmo mais barata, foram se
aglomerando alguns dos primeiros imigrantes que viraram proprietários em Botucatu.
Eram
famílias que tinham aportado nos primeiros tempos, e compravam,
agora, seus 50 ou 60 hectares,
preenchendo-os com pés de café. Formaram o que
se pode chamar de Pequenina Itália Rural, de Botucatu, constituindo-se num aglomerado de pequenas propriedades,
algumas ainda hoje com as mesmas famílias, motivo de orgulho da colônia
italiana local, ao
ponto de merecer do escritor Adeodato Faconti, ele
próprio um oriundi, um trabalho específico, que, embora não localizado, chamou ou deveria se chamar "Os Italianos de
Rubião Junior".
Espalhavam-se
esses Oriundi pelo antigo distrito de Capão Bonito
(hoje Rubião Junior) e Prata (hoje
Pratânea),e foram os responsáveis por encher de vida aquela região,
fornecendo gente para povoar e recursos para dinamizar vilarejos como
Guarantã e Faxinal.
Para
alí foram Antonio Meneghini, Francesco Frederico, Basilio
Picinin, Giovanni Lorenzoni, Generoso Pallo
e outros, flagrados no trabalho (com suas
famílias) pela câmera de um fotógrafo de Turim que veio para ali no ano de 1910 ou 1911, para fixar no papel
cenas do "lavoro" familiar in Brasile. Correu vários dos sítios e,
depois publicou um álbum
com essas fotos - ao lado de outras, de várias
cidades paulistas que abrigavam a colônia italiana no Brasil. Realizou
a única documentação que possuímos dessa fase e daquela região da
cidade.
Como
foi dito, os italianos sabiam que, sozinhos, que não dariam
conta do trato da colheita. Suas
plantações, em terra própria, avançaram para além dos 4 mil pés que o
contrato exigia que conservassem. Plantaram algo em torno de 12 mil
pés, quase todos eles.
Mas
houve alguns que foram além: Generoso Pallo plantou 30 mil pés
na época em que foi visitado;
Antonio Meneghini tinha outros 20 mil. Mesmo os
12 mil de quase todos, estavam longe do que a família estava
acostumada e, então, viram-se na
contingência de estreitar os laços entre
as famílias; repetiram como hábito o Mutirão, trabalho coletivo,
feito com a colaboração de famílias
vizinhas, alí em Rubião Junior e Prata,
geralmente empregado por ocasião da colheita.
Os
distritos de Rubião Junior e Prata, com suas pequenas propriedades,
suas festas e seus
vilarejos, não foi o único núcleo que reuniu os imigrantes italianos
que puderam comprar terras, mas, sem dúvida foi
o mais característico.
Essa
região encontrava-se, para efeito de cadastramento de sua
produção rural, dividida por localidade. Uma
espécie de subdivisão que considerava as
propriedades pertencentes a agrupamentos identificados por suas vilas:
Guarantã, Faxinal, Toledo, Prata e Capão Bonito. Nos primeiros 20 anos
deste século (XX) ali estavam as famílias:
(na Prata)-:Mazzoni, Lorenzotti, Rolin, Paschoalinotto, Brescancini,
Mariotto, Graciano, Marcolim, Basso, Buscancini, Carnietto, Pascotto,
Osti, Mansatto, Pagnotto, Paschoalin, Basseto, Balsatto, Crivelli; (no
Faxinal)-: Canciano, Fraghetta, Del Basso, Burin, Consenza, Zamuner, Manzel, Bardella, Lorençon, Grega,
Furlan, Dell Acqua,
Picinin, Ferrari, Sceno, Sanini, Ludini, Zassardo, Previato, Buganza;
(no Guarantã)-: Senan, Fioravanti, Pazzetto, Pelucchi, Scudeler,
Bachiega, Forti, Gallo, Fermiano; (no
Toledo)-: De Santi; (no Capão Bonito)-: da Roz, Cacinelli, Rosseto,
Calvavore, Contin, Bardella, Faloppa, Meneghim, Pavan, Onesto,
Costelletti, Sadriano, Paniguel, Frederico, Tolon, Scrmino, Domine,
Scarmagnoni, Vitorati, Lazzarini, Michelin, Ravagnani, Scaprin,
Butignoli, Prinietto, Troncarelli, Michelletti, Frigatto,
Nacaretto, Del Lalo.
A essa
região ombreou-se outra, tão italiana quanto ela. Localizados
na zona sul da Cuesta, os antigos
distritos de Ribeirão Grande e Espírito Santo do
Rio Pardo (hoje município de Pardinho), tão acentuadamente reuniram
imigrantes italianos que, no início do século (XX), mais eram chamados
de "Calabria de Botucatu".
Em
1919, quando pouco mais de 30 ou 20 anos de povoamento marcava
aquela região, um amplo
cadastramento da Prefeitura de Botucatu indicava que perto de 100
pequenos lavradores mantinham uma lavoura de café, a maioria com menos
de 10 mil pés plantados. Entre eles figuravam as
famílias italianas que conseguiram adquirir pequenas propriedades,
a exemplo das outras do oeste do nosso município:
Cerante Angelo (12 mil), Dromane
Leandro (5 mil),(40 mil) e (37 mil), Candardo Bartholo (2 mil), Grotti
Gaetano (5 mil), Tieghi Cesare (10 mil), Fudoli Domenico (4 mil), Vivan
Emilio (6 mil), Caetano Felipe (9
mil), Bataglia Fortunato (5 mil), Lucchetti Francesco
(7 mil), Ranniero Francesco (14 mil),
Camalionti Francesco (5 mil), Vicentini Francesco (8 mil), Finatti
Guglielmo (12 mil) Vicentini Guglielmo
(1 mil), Contim Giuseppi (2 mil), Romagnoli Giovanni(12 mil), Poli
Giovanni (3 mil), Roder Giovanni (7 mil), Bataglia Giovanni (3 mil),
Raguezzi Giovanni (20 mil),
Paoletti Giovanni (6 mil), Vivan
Giovanni (3 mil), Cerante Luigi e Alexandre (mil e quinhentos),
Sartore Martins (3 mil), Santucci
Michelle (3 mil), Corulli Nepoleão (6 mil e quinhentos), Basso Pietro (5 mil), Luigi Paoletti
(20 mil), Stramantino Paschoal (9
mil), Biancato Palmira (1 mil), Morgani
Pietro (3 mil), Glovi Sugana (13 mil), Roza Salvatore (1 mil).
Outra região, também, forte na presença italiana, localizada no
setor nordeste da Cuesta, agrupava
pequenas propriedades, quase todas convivendo lado a lado com as
grandes propriedades dos irmãos Conceição. Em Victória, atual
Vitoriana, o número de proprietários italianos em pequenas unidades só
cresceu depois do intenso desmembramento que ocorreu após a subdivisão
das Fazendas do Conde de Serra Negra.
E isso ocorreu muito mais tarde, por volta dos anos 30 ou 40.
Ali
estavam, antigos colonos das grandes fazendas, compondo o que pode
ser chamado, o terceiro
distrito italiano de Botucatu.
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