Monsenhor Paschoal Ferrari
O italiano que cuidava das almas
Artigo de D. Vicente Marchetti Zioni, arc. Emer. Btu
Natural
da Província Italiana de Massa Carrara, monsenhor Pascoal
Ferrari
nasceu em Corvino (Toscana), aos 03 de abril de 1853. Foram seus
genitores: Luis
Ferrari e Teresa Ferrari. Os estudos fê-los no Seminário de Castel
Nuovo d`Asti.
Já
sacerdote -ordenado em 1879- e com 26 anos de idade, solicitou e obteve
dos seus
Superiores autorização para exercer o seu ministério sacerdotal na
Diocese de
São Paulo, conforme expressara por escrito aos 14 de fevereiro de 1880.
No
Brasil, o Padre Pascoal Ferrari foi coadjutor (hoje diríamos: vigário
paroquial) na Paróquia de Sorocaba, onde permaneceu por dois anos sendo
transferido, a seguir, para a Paróquia de Bom Sucesso, na qualidade de
Vigário (hoje diríamos: Pároco), por três anos e depois de Itapeva,
quando trocou de Paróquia, a 06 de maio de 1886, com o Padre João Lopes
Rodrigues, então à frente de Botucatu.
Dada a
excassez de Sacerdotes, o Padre Ferrari respondeu simultaneamente pela
Paróquia de Águas da Rosa, anexa a Botucatu, de 04 de Novembro de 1886
a 27 de Dezembro do mesmo ano; atendeu eventualmente a Paróquia de
Piramboia, a partir de 20 de janeiro de 1890; foi Pároco de Bofete de
11 de julho de 1896 a 11 de dezembro e por dois dias, atendeu a
Paróquia de Chavantes, de 28 a 30 de setembro de 1912.
Como
Pároco de Santana de Botucatu (de 15 de Maio de 1886 a 28 de Dezembro
de 1919), contando a cidade de Botucatu pouco mais de 3.000 habitantes,
Padre Ferrari se ressentiu da frieza com que foi recebido, devido em
parte à forte presença do Protestantismo, e voltou para São Paulo.
Todavia, o Bispo Diocesano, o virtuoso dom Lino Deodato Rodrigues de
Carvalho, convenceu-o, paternalmente, a voltar a Botucatu. O Padre
concordou e deu início, com edificante generosidade ao seu trabalho
apostólico e ministerial.
Fundou
grande número de Associações religiosas na cidade e fora dela: a de São
Vicente de Paulo, para assistência à pobreza, o Apostolado da Oração, a
Pia União das Filhas de Maria, a Guarda de Honra, a Congregação da
Doutrina Cristã, a Obra da santa infância, etc.
No
decorrer do seu paroquiato o padre Pascoal Ferrari começou, em 1888 a
construção da nova Matriz de Santana, nos altos da cidade. A capela mór
foi benta em 1892 e o restante da Igreja no ano seguinte. Com a mudança
da velha Igreja da praça da Matriz velha (hoje Coronel Moura), para a
praça da atual catedral o Padre Ferrari obteve da Autoridade diocesana
de São Paulo o título litúrgico de São Benedito, em substituição ao de
Santana, da velha Igreja.
A
Igreja de Santana do Padre Ferrari passou a funcionar como Igreja
paroquial, sem torre, até a instalação do Bispado, em 1908, quando
passou a ser Igreja Catedral.
Novo
Bispado
Sugerida
pelo Núncio Apostólico no Brasil, o Arcebispo Júlio Tonti, e endossada
pelo Bispo de São Paulo, dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque
Cavalcanti, foi proposta e bem aceita pela Santa Sé a idéia de uma
possível Diocese na parte sul-ocidental do Estado de São Paulo.
Devidamente orientado pelo Diocesano Paulista, quanto ao desmembramento
do seu território diocesano, o Padre Pascoal Ferrari foi tomando todas
as medidas cabíveis para que a sede paroquial de Santana fosse a do
futuro Bispado. Organizou e presidiu com prudente competência a
Comissão pró Bispado e viu coroados os seus esforços com a criação da
nova Diocese em 07 de junho de 1908 e a nomeação do primeiro Bispo, na
pessoa do senhor dom Lúcio Antunes de Sousa.
Nessas
oportunidades, e como recompensa dos seus intensos trabalhos de
preparação do Bispado e de suas extraordinárias benemerências, o Bispo
de São Paulo e primeiro administrador apostólico de Botucatu, no
entremeio entre a criação da Diocese e a posse do primeiro Bispo
Diocesano, Dom Duarte Leopoldo e Silva obteve da Santa Sé, aos 04 de
Junho de 1907 o título de Monsenhor para o benemérito Padre Pascoal Ferrari.
Consta,
até mesmo, que o Arcebispo de São Paulo ofereceu, nesse dia, um jantar
íntimo no Palácio Episcopal da rua São Luís, aos recém nomeados
monsenhores, Miguel Martins, Francisco de Campos Barreto, Agnelo de
Morais, João Alves de Siqueira e Pascoal Ferrari, fazendo-lhes a
entrega do título de Camareiro Secreto de Sua Santidade.
No ano
seguinte, aos 25 de março de 1908, o Monsenhor Ferrari foi investido da
dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade e em 1910 o Bispo
Diocesano, dom Lúcio o elevou à dignidade de Vigário Geral do Bispado,
cargo este que o Monsenhor exerceu até a morte; em 1911 acrescentou-lhe
o honroso e responsável encargo de primeiro reitor do iniciante
Seminário São José‚ de Botucatu e em 1914, de Visitador Diocesano.
Depois
de uma vida longa e rica de merecimentos, monsenhor Ferrari faleceu aos
21 de abril de 1919, na sua residência - hoje Casa das Meninas Amando
de Barros - com a idade de 66 anos. Depois da Missa exequial de corpo
presente, presidida pelo Bispo diocesano, dom Lúcio Antunes de Sousa,
os restos mortais de monsenhor Ferrari foram sepultados no jazigo da
Família Ferrari, no Cemitério local, às 18 horas e 30, sendo as últimas
cerimônias do sepultamento, no Cemitério, oficiadas pelo Padre Izidoro
Monteiro CM, então reitor do Seminário.
"Trinta
e três anos de Sacerdócio, num só lugar, é algo de notável,
constituindo um fato digno de estudos e de maiores referências, o que
até agora não foi feito. Parece até um esquecimento, uma certa
ingratidão para com o boníssimo padre que eu bem conheci na minha
meninice, quando ele era Cura da Sé". (Dr. Sebastião de Almeida Pinto:
No Velho Botucatu, p.12)
A
Gazeta de Botucatu acolhe, numa nota de saudade o memorial tão
cavalheirescamente reclamado pelo ilustre Historiador, ao intitular o
9º capítulo de sua obra: "DEPOIMENTOS". O Dr. Sebastião de Almeida
Pinto emprega uma curiosa expressão verbal: "o esquecido".
E como querendo cobrir uma lacuna reproduz
na sua obra o depoimento-síntese de um benemérito Pároco de Botucatu: o
Padre Salústio Rodrigues Machado, descrevendo a personalidade do
Monsenhor Ferrari: "Era um sacerdote
exemplar, trabalhador, amigo do progresso e a cujos esforços se deve,
em grande parte a criação da Diocese de Botucatu, da qual chegou a ser
Vigário Geral".
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