A Sessão Solene

 


Dr. Trajano cumprimenta Marisa

Naquela época Botucatu vivia intensamente em torno de seus cinemas. O mais chique da época, o Casino, foi escolhido para receber os convidados.

O Cine Casino ficava defronte ao Bosque. Construído especialmente para ser cinema, tinha mais de 800 lugares. Imenso, o Casino recebeu a todos com suas cadeiras estofadas, para uma comemoração que deveria ser exemplar. No início falou o Dr. Rubens Rodrigues Torres, advogado e depois vereador, com seu discurso intensamente rebuscado nos adjetivos, elogiando a Botucatu da época.

Depois, foi a vez da jovem Marisa Pires de Campos declamar um extenso Poema de autoria de Trajano Pupo Junior, intitulado "Princesa da Serra". O jornal O Correio de Botucatu, falou, depois do evento: "Princesa da Serra é o título da maravilhosa composição poética do sr. Trajano Pupo Junior, cujo conteúdo sintetiza todas as fases da Botucatu Centenária... Não poderia, outrossim, alcançar a poesia do sr. Trajano, maior sucesso do que ter sido a mesma entregue à interpretação cheia de vida, emocionante e rítmica, da srta. Mariza Pires de Campos. Poeta e declamadora se completaram, dando a Botucatu e aos que nos visitaram uma página cheia de história, emoção e beleza..."

Nos intervalos entre discurso e declamação, os presentes ouviam páginas musicais da mais pura inspiração. O talento da composição e a regência estavam entregues a um virtuose da época, o professor Aécio de Souza Salvador. Ele havia composto "Suite Botucatuense" e resolveu fazer uma surpresa à cidade. Levou para a cerimônia o Conjunto Orquestral Botucatuense, do qual faziam parte Afonso Lunardi, Romeu Rugieri, Francisco Sanches Gutierres, João Maranhão, Vicente Moscogliato, Amir de Oliveira, Abílio de Almeida e a srta. Elisabeth Leão e, com eles, executou uma de suas melhores composições. Foi aplaudidíssimo.

Começada às 16 horas, a Sessão terminou depois das 18.


Em 1955, a professora Marisa Buchignani era Pires de Campos. Jovem, havia ingressado, recentemente, no curso de Pedagogia na Faculdade do Sagrado Coração, em Bauru. Mas já tinha larga experiência. Um ano antes, quando estava concluindo o Curso de Artes Dramáticas no Conservatório de S. Paulo, fora escolhida pelo próprio poeta Guilherme de Almeida para declamar, diante das câmeras da TV Tupi, versos em louvor a São Paulo Quadricentenária: "Foi o meu primeiro ano de Faculdade. Foi o ano em que me casei, também. Eu estava muito atarefada e meu pai ficou muito aflito, porque a poesia tinha 800 versos, mais ou menos e ele tinha medo que eu esquecesse. Eu também tinha. Então eu pedi ao Armando Vulcano, que era "ponto" do TAENCA, do qual eu fazia parte, também, para ficar atrás das cortinas, que era para o caso de um esquecimento, aí então ele me daria a "deixa". No dia, cheguei no meio da poesia e me deu um branco, esqueci e parei. Fiquei olhando o público e o público me olhando. Todo mundo pensava que era assim mesmo.

O Vulcano, empolgado com a declamação, perdeu-se no texto e não conseguia me passar a "deixa". Eu, parada, fiquei um tempo olhando o auditório do Casino e, num esforço, lembrei-me do restante. Saí com dor de cabeça... mas valeu a pena".




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